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A casa do Francisco

Estive uns dias em São Pedro da Serra, cerca de 37 km de Nova Friburgo, RJ, um lugar no alto da serra fluminense, com mata atlântica densa, muitos rios e cachoeiras, lojinhas de artesanato, uma pizza com massa de aipim, que é uma delícia e uma população que não chega a 3 mil habitantes.
São Pedro fica pertinho de Lumiar, uma vila de colonização suíça, onde nasce o rio Macaé, responsável pelas lindas cachoeiras locais.
No centro de Lumiar, como boa observadora que sou, encontrei esta casinha, de portas e janelas vermelhas, além de pequenas cortinas por fora das janelas. Passei várias vezes por ali e em nenhum momento a casinha estava aberta, nem uma janelinha pra gente espiar. Não, não perguntei a ninguém sobre ela. E isso foi bom porque posso imaginar a felicidade de quem vive ali.
Presumo que esta casinha tenha dois quartos, não tenha laje, apenas as telhas e um bom forro em madeira. Um banheiro grande, sem luxo, com cortinas de box. E o que chamamos "área de serviço" talvez seja uma grande varanda nos fundos, coberta por telhas coloniais, onde, claro, deve ficar a casinha do cachorro também.
Todo o casario local me chamou a atenção, mas esta aqui, com portas e janelas vermelho-paixão realmente me encantou.
Encantei-me com a simplicidade. Encantei-me com a beleza da casinha sem muros, cuja porta fica na calçada. Encantei-me com a possibilidade de ser feliz na casa do Francisco.




Nessa casa vive o Francisco, um menino de apenas 5 anos. Sua rotina é a mesma de qualquer garoto de sua idade, com uma diferença: Francisco gosta de contar estrelas, como sua mãe, que vivia a olhar para o céu quando menina.
Ele brinca de jogar bola com seu pai, está aprendendo a levantar pipas e a brincar com bola de gude. Ele gosta de cachorros, gatos, pássaros, cavalos e peixes. Francisco tem uma pequena biblioteca de livros infantis que sua mãe compra quando vai à cidade mais próxima. Ela lê para ele todas as noites.
Sua mãe é professora numa pequena escola local, onde Francisco também inicia seus estudos. Ela cozinha, cuida da casa, do marido e do Francisco. O maior traço de beleza de sua mãe não está nos longos cabelos negros, mas no sorriso que dá quando, da janela vermelha, avista o marido chegando do trabalho, e diz, "Chico, seu pai chegou!".
Francisco chega a cantarolar em inglês a famosa canção da banda americana Aerosmith, "I don't wanna miss a thing", de tanto que sua mãe canta, olhando para ele:


"Don't wanna close my eyes
I don't wanna fall asleep
'Cause I'd miss you baby
And I don't wanna miss a thing"

Seu pai é artesão, trabalha como marceneiro e faz os móveis de quase toda a cidade, além de ter encomendas para municípios vizinhos. Seu pai tem mãos lindas, fortes, grossas. É um homem de silêncios, de largo sorriso e de constante oração. Todos os dias, durante o jantar, toma uma caneca de vinho tinto. Ele mesmo pintou as portas e as janelas da casinha na cor que a mulher escolheu, "vermelho-paixão".
Francisco é feliz na mais bela casa de toda a cidade. Ele toma banho nos rios, pesca com seu pai nos finais de semana e aprende a rezar com sua mãe.
O maior luxo da família, além da casinha que você vê acima, é o amor.






Flavia Gomes
Imagem: arquivo particular.


Um comentário:

  1. EMOCIONANTE!
    primeira vez q venho aqui,me emocino.
    virei mais vezes. bjus
    docelardaluly.blogspot.com

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